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Ilana Katz: “A produção de pertencimento é promotora de saúde mental”

26 de julho de 2023

Psicóloga pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, mestre em Psicologia e doutora em Educação pela USP, Ilana Katz compôs a mesa “Educação em Direitos Humanos e Promoção da Saúde Emocional na Escola”, durante a 4º Edição do Grande Encontro das Comissões de Mediação de Conflitos da Cidade de São Paulo

A psicanalista evidencia a dimensão do convívio e a lógica coletiva da escola como possibilidades para proporcionar pertencimento a todas as populações que a compõem, como meio de promover saúde: “A promoção de saúde mental no ambiente escolar está articulada com a produção de pertencimento”.

Leia mais na entrevista a seguir.


Respeitar! – Quando falamos em produção social do sofrimento, nos referimos a causas sociais que causam sofrimento psíquico. É possível que o ambiente escolar não as reproduzam?

Ilana Katz – Entendo que o que acontece dentro da escola é o que está acontecendo fora da escola também. A escola não está inventando novas formas de sofrimento, mas, como uma organização da sociedade, recebe e de alguma maneira reproduz nesse núcleo o que acontece na nossa organização social. Isso quer dizer que a escola não inventa novas práticas de sofrimento, mas que pode incrementá-las, dependendo do que acontece nelas, ou pode trabalhar para diminuí-las.

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Respeitar! – Qual é a relação entre promoção da saúde emocional no ambiente escolar e produção de pertencimento? Pode falar mais sobre isso? 

Ilana Katz – Olha, o melhor jeito que eu tenho para responder isso é me referir a um pensador indiano chamado Vikram Patel. Ele relaciona a ideia de saúde mental com conexão. E uma colega, Cristina Ventura, ajudou a gente a traduzir isso com a frase: “Saúde mental é pertencimento”. Ou seja, a produção de pertencimento é promotora de saúde mental e a promoção de despertencimento produz o adoecimento. 

Respeitar! – Que caminhos enxerga para que a escola possa produzir pertencimento, em vez de, como você diz, “incrementar” o sofrimento? 

Ilana Katz – Quero começar dizendo que não dá para cobrar da escola que, sozinha, resolva um problema que atravessa toda a nossa organização social. Isso é importante para que a gente possa, juntos, fortalecer a escola, para que ela possa dar conta de sua tarefa e realizar seu mandato. A promoção de saúde mental, inclusive, faz parte do mandato da escola e deve se realizar de maneira articulada com outras agências da organização social.

A promoção de saúde mental dentro do ambiente escolar está articulada com a produção de pertencimento. Dentro da escola, é preciso que a gente possa fazer do convívio, currículo. Isso acontece em vários níveis. Um deles é criar espaços de convívio dentro do ambiente escolar, de convívio com as diferenças, com as diferentes experiências de vida. Que a escola possa ser o lugar que legitime a experiência com alteridade.

E isso precisa entrar no âmbito do conhecimento também, do que a gente chama de “currículo acadêmico”, digamos assim. A gente não vai fazer do convívio, currículo, sem práticas de currículo antirracista e anticapacitista. Isso está na ordem do dia, como construção de experiência de pertencimento para todos. Quando falo isso, lembro sempre da frase de Roberta Cecilia Dalva, uma militante do movimento negro: “Se a paz não for para todos, ela não vai ser para ninguém.” É nessa direção que a gente precisa pensar um currículo antirracista e anticapacitista. 

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Respeitar! – Qual a importância, nesse processo, das relações entre Unidade Educacional e o território onde ela está inserida?

Ilana Katlz – A escola não realizará sua tarefa se ela não estiver articulada ao território. E o território perde muito se não se articular à escola. Quer dizer, não existe uma escola genérica. Existe esta escola, neste território, cuidando desta população, agindo sob estas condições, sob estas dificuldades. A gente não vai produzir pertencimento com soluções universais. A gente precisa particularizar as soluções, e o melhor jeito é a articulação com o território e com as suas demandas.

Entrevista por Natália Pesciotta

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Revista Respeitar! Psicanalistas abordam promoção da saúde emocional no contexto escolar

1 comentário

  1. Maris em 13 de outubro de 2023 às 19:31

    Excelente entrevista da Dra. Ilana.

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