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Educadores apostam no diálogo para recriar a convivência escolar

Por Natália Pesciotta

“Lá na escola, a gente tem um livro para anotar as ocorrências e desdobramentos dos conflitos. Só para te dar uma ideia, no primeiro bimestre desse ano a gente já tinha completado um livro grosso. Em dois meses!” É assim, com espanto, que o professor David Rocha tenta dimensionar o aumento dos conflitos na EMEF Teresa Setuko em 2022. Ele não está sozinho. A sensação foi compartilhada por diversos profissionais da rede municipal paulistana presentes no 3º Grande Encontro das Comissões de Mediação de Conflito, em São Paulo. O evento fez parte da parceria entre o Instituto Vladimir Herzog (IVH) e a Secretaria Municipal de Educação (SME) para valorizar os Direitos Humanos na educação.

Estas Comissões de Mediação de Conflitos (CMCs), que existem na Rede Municipal de Ensino desde 2016, são espaços de diálogo e empatia para pensar coletivamente sobre os conflitos da escola, compostos pela equipe gestora, de apoio, professores, estudantes e responsáveis. Por meio do projeto Respeitar É Preciso!, o IVH oferece formações para subsidiar e fortalecer as comissões.

Exatamente por conta da maior animosidade no ambiente escolar, as Comissões de Mediação de Conflito têm ganhado ainda mais relevância em 2022. É o que conta Marcela Mendes de Paula, assistente da diretora da EMEF Dr. João Naoki Sumita, onde “tudo estava mais difícil esse ano”. Além dos encontros mensais, a comissão tem se encontrado em reuniões ordinárias quando surge alguma desavença, com participação de professores e alunos. “É um espaço em que todo mundo conversa e pensa junto sobre como encaminhar as situações. Esse tipo de diálogo aberto está ajudando a criar relações mais próximas, tem sido muito produtivo”, comemora Marcela.

Diálogo sem telas

Os desafios da rotina presencial estão presentes mesmo com as crianças pequenas – e suas famílias – no ensino infantil, relata Eunice Fabiana Sobral, assistente de direção do CEU EMEI Três Pontes. “Antes, muitos vinham da creche, então já tinham passado por uma rotina fora de casa. Agora, os significados do que é a escola estão mais perdidos”, ela reflete. Eunice acredita na importância, nesse momento, de se reaproximar das famílias sem as telas do celular. Na opinião da educadora, as tecnologias foram muito úteis no período mais grave da pandemia, mas não proporcionam um diálogo próximo o bastante. 

Eunice compartilha um caso recente em que uma mãe chegou a protocolar denúncia sobre a escola, por entender que seu filho havia sido tratado de forma inadequada. Porém, numa visita à unidade, com uma conversa aberta, a mãe olhou de outra maneira para a situação, e inclusive compartilhou sobre suas inseguranças pessoais por se separar da criança pela primeira vez. Para Eunice, esse exemplo evidencia o valor do diálogo. “Estamos buscando voltar a ter esse sentido de escola mais fortalecido.”

Recriar o elo

Priscila Marim dos Santos, assistente do diretor da EMEI Chácara Santa Maria, também nota uma maior agressividade no momento atual, e acredita na necessidade de estreitamento das relações. Nas tentativas de recriar os elos com mais empatia, a comissão de mediação de conflito tem sido fundamental. 

Priscila relembra uma conversa na comissão que trouxe resultado muito positivo, com auxílio dos Cadernos do Respeitar. Uma criança vinha sendo desrespeitada por sua turma, que só a chamava por apelidos pejorativos. “Vimos que o material indica propostas sobre isso. A professora, lado a lado com a comissão, passou a oferecer filmes, atividades lúdicas, rodas de conversa e foi trabalhando com eles a questão do respeito, da identidade. Deu super certo. Foi uma grande mudança na sala”.

Essa mudança é o que espera David Rocha, o professor da EMEF Teresa Setuko que abre este texto. A sensação por lá é de colegas desmotivados e estudantes mais agressivos, com dificuldade para conversar. “Nossa comissão foi formada recentemente e estamos nos fortalecendo agora. A mediação nós fazemos diariamente, tentamos fazer o todo tempo. A gente não vê outra possibilidade. Entendemos que será o único caminho”.

3 comentários

  1. Maria da Penha de Mello Mello em 12 de julho de 2022 às 09:44

    Acho que o diálogo sempre será a forma mais coerentede se resolver conflitos. As comissões serão um elo entre os professores, gestao e alunos.

  2. EDVÂNIA PAULO em 31 de julho de 2022 às 17:58

    SOU PROFESSORA DE EDUCAÇÃO FÍSICA,MEU NOME É EDVÂNIA PAULO, É PRECISO IDENTIFICAR O(S) CONFLITO(S) E SABER MEDIA-LO, PARA ISSO PODE-SE TRABALHAR TEMAS COMO: RESPEITO, RESPONSABILIDADE, DIVERSIDADE… , RODAS DE CONVERSAS, VÍDEOS E PALESTRAS, O CONHECIMENTO DE SUA IDENTIDADE É O PRIMEIRO PASSO, DEPOIS AJUSTAR TEORIA E PRÁTICA PARA EQUILIBRAR OS SENTIMENTOS, O SOCIOEMOCIONAL, PARA ALCANÇARMOS UMA SOCIEDADE EQUILIBRADA E JUSTA.

  3. Solange aparecida Soares Costa em 18 de outubro de 2022 às 23:33

    O diálogo é sempre a forma mais sensata para resolver um conflitos, identificando o conflito a CMC entrara como mediadores acolhedores das partes envolvidas para sanar as questões.

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