Cadê minha escola? – divagações de uma educadora em meio à pandemia
7 de abril de 2020
Por Gunga Castro*
A grande maioria das crianças, adolescentes e jovens estudantes deve ter, de uma forma ou de outra, ouvido dos adultos algumas respostas para esta pergunta. Sim, a escola está fechada por enquanto, precisamos nos proteger de um vírus, é importante ficar em casa, etc. Não há mesmo nada além disso que possa ser falado neste momento, mas é certo também que todos são assaltados por outras dúvidas. “Quando isso acaba?” “Como estão meus amigos?”, “e minha professora?”. Assim como eles, nós, adultos, não sabemos responder a estas e muitas outras questões.
É muito difícil, neste momento traçar um plano, ou pensar em um jeito de nos preparar para a volta às aulas e, desta vez, aquela ideia de que nós temos muito o que aprender com as crianças ganhará uma importância especial e urgente. Muito urgente. Só elas poderão nos mostrar como fazer.
Do pouco que sabemos, uma coisa é certa: esta situação não está sendo boa para ninguém, e as crianças e jovens, assim como nós, estão sofrendo com isso. Cada um a seu jeito. Se, por um lado, não é possível antecipar nenhuma ação de nossa parte, por outro, podemos pensar em alguns pontos que poderão nos ajudar.
Talvez seja bom lembrar que, se os alunos viveram esta experiência de formas singulares, demandarão de nós ações e posturas diferentes também. Podemos imaginar que alguns chegarão saudosos, outros ressabiados, felizes, inseguros, tristes, curiosos… e alguns até enlutados. O importante é que cada um destes sentimentos tenha espaço e tempo para se manifestar e conte com a nossa ajuda por meio do acolhimento e da escuta que, neste momento, pode ter um efeito muito, muito maior do que as palavras que levamos a eles.
Escutar, neste momento, é manifestação de respeito, daquele respeito que sempre lembramos, que considera a todos como sujeitos de direito, e zela pela dignidade e pelo bem estar de todos.
Agora, mais do que nunca, é o momento de fazer valer a nossa experiência, nossa capacidade de olhar para um e para todos ao mesmo tempo, nossos sucessos, fracassos, nosso papel de adultos de referência, nossa formação, e o mais importante de tudo, o conhecimento e a familiaridade que construímos com um território precioso, palco de tudo que aconteceu e acontecerá na nossa volta: o chão da escola.
Cada professor saberá ouvir seus alunos a partir de suas manifestações. Saberá ouvir os pequeninos, que não falam, mas dizem muito a partir de seus gestos, seus choros, suas brincadeiras; saberá perceber aqueles que se recolhem neste momento e também não falam, mas deixam claros seus medos, inseguranças e até seus lutos; saberá encontrar nos adolescentes aqueles gestos que podem parecer hostis e agressivos, mas dizem também da confusão que estão vivendo e da ajuda que estão precisando.
Ainda que seja bastante importante ouvirmos e contarmos com a ajuda de uma série de profissionais como psicólogos, médicos, assessores, rede de proteção, etc, nós, os atores da escola, conhecemos cada um dos alunos, e descobriremos a melhor forma de conduzir nossos grupos diante de todas as situações que surgirão, afinal de contas, é ao nosso encontro que os alunos vêm quando se dirigem todos os dias, para a escola.
Para isso, é importante também construir uma rede de apoio entre nós, onde seja possível pedir ajuda, ajudar, compartilhar situações, falar e ouvir e, assim, nos preparar para responder, sempre que uma criança perguntar “cadê minha escola?”, com um “Estamos aqui, como sempre, esperando por vocês”.
ps. deixo um convite para vocês: acompanhem nossa Campanha especial Respeitar! em tempos de coronavírus – estamos selecionando e produzindo muito conteúdo para acolher e fortalecer educadoras e educadores neste momento tão complexo.
* Professora polivalente por formação (Normal Superior), foi professora regente de Educação Infantil e Ensino Fundamental 1 em escolas da rede privada de São Paulo, de 1985 a 2007, passando, neste ano, a coordenar o Núcleo de Práticas Inclusivas da Escola da Vila, em São Paulo, até o ano de 2017. Atua também, desde o ano de 2000 até os dias de hoje, como formadora de professores na área de Alfabetização, Língua Portuguesa, Educação Inclusiva e Matemática, em diversos estados do Brasil. Atualmente, presta assessoria na área de Educação Inclusiva em escolas da cidade de São Paulo, compõe a equipe de educadores em Educação em Direitos Humanos do Instituto Vladimir Herzog. É selecionadora da área de educação inclusiva do Prêmio Educador Nota 10 da Fundação Victor Civita e atua como parceira em diversos projetos do Centro de Educação Terapêutica Lugar de Vida.
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