Para reconstruir o convívio na escola, é preciso fortalecer os valores em direitos humanos
1 de julho de 2022
A rotina escolar diária, tão aguardada durante a fase mais aguda da pandemia, completa um ano no fim deste primeiro semestre de 2022 na maior parte do Brasil. Quais desafios este momento vem trazendo a quem vive o cotidiano da educação básica? Apesar da satisfação com a ampliação da retomada presencial, uma sensação de maior intensidade nos conflitos é compartilhada por professores e gestores. Certo clima de agressividade nas escolas, que começa a se verificar estatisticamente, acende um alerta para a sociedade e parece revelar algo fundamental: a necessidade de um re-aprendizado coletivo sobre a convivência.
A rede estadual de ensino de São Paulo, por exemplo, registrou crescimento de 77% nos casos de bullying em 2022, na comparação com o ano de 2019. Ameaças e agressões físicas também tiveram aumento, de 52% e 48,56%, respectivamente, segundo dados do sistema de ensino do estado. Na rede municipal da capital paulista, o mesmo sentimento de animosidade se faz presente, com relatos de maior dificuldade de convívio entre professores, estudantes e suas famílias. Ou seja, vivemos um momento de grande complexidade, em que as equipes necessitam de apoio.
No 3º Grande Encontro de Comissões de Mediação de Conflito da Cidade de São Paulo, dia 13 de junho, pudemos trocar experiências, refletir sobre elas, pensar em caminhos para restabelecer os pactos de convivência e reconstruir relações pautadas pelo respeito. Fruto da parceria entre o Instituto Vladimir Herzog e a Secretaria Municipal de Educação, o encontro fez parte do projeto “Respeitar É Preciso”, no intuito de promover os valores de Direitos Humanos na Educação.
Diversos espaços da escola são importantes para recriar relações atravessadas pelo diálogo e entendemos que devem, mais do que nunca, ser fortalecidos este ano: o Conselho Escolar, a Associação de Pais e Mestres (APM), as próprias reuniões com responsáveis e, no caso da rede municipal de São Paulo, a Comissão de Mediação de Conflito (CMC), espaço de diálogo instituído na rede municipal em 2015, composto pela equipe gestora, de apoio, professores, estudantes e responsáveis.
Quando falamos em direitos humanos na Educação, pretendemos ir além da abordagem dos conceitos em sala de aula. São necessários esforços para incorporar no dia a dia seus valores, como o respeito mútuo e a empatia. Precisamos fortalecer a compreensão de cada indivíduo da comunidade escolar como sujeito de direito: alguém que não apenas precisa ter seus direitos assegurados, mas que tem o que dizer sobre sua visão da realidade – a despeito das hierarquias existentes na escola. A questão central está em disseminar o exercício de escuta e, sobretudo, ampliar a confiança na coletividade para construção de reflexões e encaminhamentos.
Não podemos deixar de ressaltar a expansão de uma cultura de violência, intolerância e silenciamento na sociedade brasileira como um todo, com reflexos na educação. Tampouco podem ser desconsideradas as condições sociais do país atualmente, com crescimento das taxas de pobreza, insegurança alimentar e desemprego. A escola é, obviamente, impactada por esses contextos. No entanto, ainda existem relações que se produzem a partir das unidades escolares e é aí que reside nosso trabalho.
Em tempos de tantos desafios, em que pactos sociais parecem estremecidos, confiamos na ampliação da educação em valores de direitos humanos para re-aprendermos a viver junto. Só assim poderemos fortalecer a escola como espaço de respeito e coletividade. Um espaço de potência, enfim.
Equipe de Educação em Direitos Humanos do Instituto Vladimir Herzog
Muito importante o texto!