
Ação formativa promove reflexão de educadores/as sobre mediação de conflitos cotidiana
2 de julho de 2025
Parte do projeto Respeitar é Preciso!, formação com foco na convivência escolar reuniu centenas de profissionais da Rede Municipal de Educação de São Paulo
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Quem educa no ambiente escolar é um/a pacifista? A pergunta provocadora da psicóloga especialista em educação Kátia Bautheney durante o 6º Grande Encontro das Comissões de Mediação de Conflitos remete ao papel da escola e de cada educador/a na construção da cultura de respeito mútuo, promovida pelas ações formativas do projeto Respeitar é Preciso! há 10 anos na Rede Municipal de Ensino de São Paulo, pela parceria entre Instituto Vladimir Herzog e Secretaria Municipal de Educação de São Paulo.
Realizado no dia 28 de maio no Sesc Pinheiro, em São Paulo, o Grande Encontro é uma das ações formativas do projeto Respeitar é Preciso! e contou com a participação de 650 educadores que compõem as CMCs de suas unidades de ensino. Com a proposta de ser um momento de reflexão coletiva, o evento teve a participação da filósofa Viviane Mosé e das doutoras em educação Jussara Santos e Kátia Bautheney, além de abertura do Quinteto do Projeto Guri.
Segundo Taize Grotto de Oliveira — responsável pelo eixo de educação em Direitos Humanos, Convivência e Mediação de Conflitos da Coordenadoria dos CEUs (COCEU/SME) —, o encontro é pensado como espaço “para fortalecer os laços, reencantar o fazer cotidiano e compreender que o direito à aprendizagem começa no reconhecimento do outro e na construção de vínculos”.
Durante a cerimônia de abertura, Hamilton Harley, coordenador de Educação em Direitos Humanos do Instituto Vladimir Herzog, explicou como os 10 anos de atuação do projeto têm demonstrado que uma abordagem cuidadosa para os conflitos e valores do ambiente escolar impactam na aprendizagem e na diminuição de violências:
“Recentemente, realizamos uma avaliação de impacto do projeto e, além dos resultados expressivos no fortalecimento das instâncias de participação e na diminuição das violências, observamos também um dado muito relevante: as escolas que participaram do projeto por mais tempo apresentaram indicadores de aprendizagem mais elevados” — Hamilton Harley.
Segundo Harley, a pesquisa de impacto reforça impressões já notadas pelas pessoas que vivenciaram as ações do ReP! de que a educação em direitos humanos — entendida como uma educação em valores, transversal e vivencial — contribui diretamente para o desenvolvimento integral de crianças, adolescentes e jovens. “Isso se concretiza quando o convívio escolar é tratado como parte essencial do processo de ensino e aprendizagem”, concluiu.
Mediação de conflito no cotidiano
As Comissões de Mediação de Conflitos (CMCs) são um colegiado presente em todas as unidades de ensino da rede municipal de São Paulo. Elas são formadas por integrantes da própria comunidade escolar e funcionam como espaços coletivos de diálogo e construção democrática.
No evento, a educadora Gláucia Burckler, da COCEU/ SME, analisou como a política de mediação de conflitos da rede tem sido aperfeiçoada ao longo dos últimos anos, uma vez que as formações oferecidas pelo Respeitar é Preciso! para educadores/as que fazem parte das CMCs agora são consideradas parte do horário de trabalho e que a participação nas CMCs passaram a contribuir para a evolução titular.
Além disso, agora os Assistentes de Direção passaram a ser considerados membros natos das comissões das suas unidades educacionais. Com isso, todos os 1.534 Assistentes de Direção da rede direta estão participando de ação formativa direcionada para CMC, parte do projeto Respeitar é Preciso!.
Cerca de 89% dos gestores participantes da formação afirmam conseguir atuar de forma mais objetiva e concreta nas CMCs após os ciclos formativos oferecidos pelo ReP!. Além disso, 99,6% dos ADs participantes acreditam agora ter mais subsídios para atuar nas comissões.






Confira trechos da mesa e das palestra do 6º Grande Encontro das CMCs
As principais atividades do Grande Encontro foram a palestra “O papel da educação em direitos humanos na construção de ambientes de aprendizagem”, com a filósofa Viviane Mosé, e a mesa “Direitos humanos, diversidade e equidade: Quais os impactos para a aprendizagem?”, com Katia Bautheney e Jussara Santos. Com os debates, educadores/as foram convidados a refletir sobre os conceitos e diretrizes que embasam a mediação de conflitos cotidiana na perspectiva da educação em direitos humanos. Confira trechos:
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O sujeito que aprende é sujeito de direito
“Partimos da premissa de que o sujeito que aprende é um sujeito de direito. É um sujeito que, assim como nós, educadores, ouviu muita poesia, muita música. É um sujeito que tem cor, tem a história do seu lugar. Acreditamos na potência da educação em direitos humanos para pensar esse sujeito que aprende, que é sujeito de direito no contexto das unidades educacionais, instituições coletivas por excelência e que constituem comunidades formadas por gente que é sujeito de direito. Assim, entendemos o papel da aprendizagem numa perspectiva ampla, do direito à educação e à formação de um sujeito integral”.
Crisley Custódio
(Doutora em Educação e coordenadora pedagógica do Instituto Vladimir Herzog)
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Paz não significa ausência de conflitos
“Dentro dos inúmeros atributos que qualificam a nossa prática profissional como educadores e educadoras, há um que muitas vezes está implícito nas nossas formações, nos planejamentos, reuniões e aulas: a dimensão política e existencial da ação de educadoras e educadores como pacifistas. Principalmente no trabalho com mediação de conflitos. Qual a importância de termos consciência da dimensão pacifista nas nossas práticas pedagógicas? Acho importante aqui destacar que por pacifismo nós não estamos pensando em inércia, estamos pensando em muita energia. A paz não significa ausência de conflitos e sim energia para fazer contornos nesses conflitos.”
Kátia Bautheney
(Psicóloga e doutora em Educação)
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Educação de qualidade e respeito à diversidade
“Entre os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU (ODSs), o objetivo número quatro, sobre Educação de Qualidade, diz o seguinte: uma educação de qualidade não deixa ninguém para trás. É a partir dessa educação que a gente vai pensar nos bebês e nas crianças negras, nos bebês e nas crianças migrantes, nos bebês e crianças com deficiência. De que forma a gente tem pensado nessa diversidade de vivências cotidianas numa perspectiva contundente de combate ao racismo, do combate ao sexismo, do combate à misoginia? Como tem sido a escolha do currículo? Quais são os livros lidos? Como as escolhas cotidianas contribuem para a promoção do direito de cada bebê e criança?”
Jussara Santos
(Doutora e mestre em Educação)
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Capacidade de se relacionar
“A compreensão da finitude deve vir acompanhada do senso estético, essa sensibilidade que deve ser desenvolvida desde a educação infantil. O que é preciso ser trabalhado com essas crianças desde o início? O amor pelo coleguinha, a fragilidade da existência, a capacidade que a gente tem de se relacionar”
Viviane Mosé
(Psicóloga, mestre e doutora em Filosofia)
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Saiba mais:
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