14 de agosto de 2019
“O Grêmio realmente foi aquela ponte que a gente precisou construir”. É com essa fala que a aluna Raquel Ferreira da Silva exemplifica a mudança nas relações entre estudantes e corpo discente após a consolidação do grêmio estudantil na sua escola. Raquel é aluna do 9º ano da EMEF Vladimir Herzog, que fica na Cidade Tiradentes, zona leste da capital paulista, e no último dia 9 de agosto participou do 3º VEM – Vozes Estudantis em Movimento, da Diretoria de Ensino de Guaianases e Secretaria Municipal de Educação, que aconteceu no CEU Água Azul.
Desde 2017 a proposta do VEM é promover a construção de grêmios estudantis autônomos na perspectiva de espaços democráticos nas Unidades Escolares. Para Raquel, além do amadurecimento dos próprios alunos sobre o papel que podem desempenhar no Grêmio, o apoio da direção foi essencial para a construção do diálogo na EMEF Vladimir Herzog. “Com a nova gestão da Keilla, a gente trouxe os professores para ‘baixo’, trouxe os professores pro meio da gente, a gente tem uma proximidade a mais, entende?”.
Kawany Geovanna, do 9º ano, concorda. “Antes eu não conversava tanto assim, como por exemplo, com a Keilla, e com o Grêmio parece que a gente interage mais com todos”. A participação no VEM foi especial para Kawany, que dividiu o palco com os alunos Giovana, Erick e Gui, e também com a psicóloga Carla Ruiz, para uma conversa inspiradora. “Eu sempre sofri muito racismo, principalmente quando eu era do Fundamental I, quando praticamente todos os dias algumas meninas me xingavam e faziam eu me sentir muito inferior a elas pelo fato de eu ser negra e também por eu jogar futebol”, disse, entre sorrisos e lágrimas.
Há um ano na direção da EMEF, Keilla Barreto Girotto diz que assim que chegou na escola soube das histórias de desrespeito e humilhação que aconteciam com Kawany e com outros estudantes. Logo que assumiu o cargo, abriu espaço para o diálogo e se manteve atenta à importância da escuta para compreender as queixas e anseios desses jovens. Na plateia do VEM, se emocionou ao ouvir o depoimento da aluna: “Para mim, [ouvir] isto tem uma leveza muito grande, desses alunos se reconhecerem como pessoas, como participantes, como integrantes [da escola]“.
O movimento de protagonismo estudantil do VEM e da EMEF Vladimir Herzog não é único. Este ano, a Secretaria Municipal de Educação de São Paulo lançou uma proposta para ampliar a gestão democrática nas Escolas de Ensino Fundamental (EMEFs) e Ensino Médio (EMEFMs) e, para tanto, começou a sensibilização de diretores e diretoras da rede em maio. Representantes de classe foram eleitos em junho, quando começaram as inscrições para a Comissão Eleitoral e a organização das chapas eleitorais em todas as unidades da SME. Neste mês de agosto, cerca de 400 mil estudantes de 500 escolas devem escolher os Grêmios que assumirão um papel importante de diálogo no ambiente escolar. Cada Grêmio receberá R$ 5 mil da prefeitura, para decidir, em conjunto com a direção, onde investir o dinheiro.
Para a profa. Heloísa Helena Gregório, que acompanha Raquel, Kawany e os demais integrantes do Grêmio na EMEF Vladimir Herzog, as escolas só têm a ganhar ao abrir o espaço para a participação dos estudantes. “Na minha época a gente não podia dizer o que queria. Agora é a ‘globalização’ do jovem. Se você ouve o que eles têm para dizer, dá para fazer muita coisa!”.
Veja um pouco do que foi o 3º VEM na DRE Guaianases
(fotos: Ivan Moutinho)
Trabalho maravilhoso
Demais, né, Mauri! 😉