4 de setembro de 2019
No último dia 21 de agosto os familiares da EMEI Jardim Monte Belo, na zona oeste de São Paulo, foram surpreendidos com um bilhete na mochila das crianças:
“Muita atenção: não iremos mais ter a VI Festa da Cultura Brasileira no próximo sábado. Ela foi adiada para o próximo dia 28 de setembro!”.
A decisão da troca de data partiu da escola, em conjunto com a comissão de familiares, por perceberem que havia dificuldade, por parte de pais, mães e crianças, em participar da festa.
“Este é o sexto ano que realizamos a festa e, como nos anos anteriores, a ideia era vender um “passaporte” por criança para arcar com os custos de brinquedos infláveis que iríamos alugar para o evento. Além disso, teríamos também a venda de comidas, como prato de feijoada, lanches e bebidas”, explicou José Roberto Marques da Silva, coordenador-pedagógico da escola. “Com a proximidade da data, passamos a receber bilhetes das famílias dizendo que não participariam, pois não podiam arcar com os valores”, diz, referindo-se ao passaporte de R$ 25,00 por criança e os pratos (que iriam variar até R$ 10,00).
A escola, então, levou o assunto para reunião, com a presença do Conselho de Famílias. “Nossa festa tinha como premissa falar sobre direitos humanos. A gente percebeu que a ideia de cobrar, mesmo que só para cobrir custos, seria uma contradição, porque estaríamos sonegando o direito das pessoas participarem fazendo uma pré-seleção econômica”, diz Silva. Ao abrirem o espaço de escuta, professores e direção viram que questões como a crise econômica e o alto índice de desemprego entre os familiares eram impeditivos para a realização da festa naquele formato.
“Eu mesma fui uma das primeiras a dizer que não tenho condições, porque não estou trabalhando”, explica Margarida Jesus Paixão, da comissão das famílias e mãe da aluna Brenda, de 6 anos. “Eu acompanho de perto minha filha na escola, faço reunião com a professora para saber da parte pedagógica, tô sempre lá”, diz. Entusiasta de atividades que envolvam a comunidade escolar, Margarida disse que, para pagar a festa teria que deixar de comprar outras coisas mais essenciais.
A reunião entre direção e comissão terminou com a proposta de repensar a festa, remarcada para o dia 28 de setembro. A nova proposta é ter um almoço coletivo com lanche para as crianças e a colaboração de voluntários para oficinas de arte e diversão.
O bilhete encaminhado para as famílias foi publicado na página da escola no Facebook e compartilhado quase 700 vezes. “Agradecemos a todos e todas os comentários e compartilhamentos. A esperança pode ser frágil, mas não será fácil destrui-la enquanto houver uma única luz brilhando. Obrigado!”, agradeceu a escola na rede social.
Satisfeita, Margarida diz que tanto ela quanto outros pais e mães gostaram da atitude da escola. Quando questionada sobre o papel da educação na vida da filha, a cuidadora de crianças, que estudou só até a 8a. série do antigo ginásio (atual 7º ano), é enfática: “Eu acho que a educação é cultura, é cidadania, é consciência, é tudo!”. E finaliza: “e é também exemplo“.
Para a festa do dia 28/9, a escola está aceitando a doação de livros infantis para presentear os estudantes, além de outras demandas, como voluntários e itens de alimentação para o almoço coletivo. Clique aqui e veja como colaborar!