Vera Iaconelli: é preciso refletir sobre nosso papel no processo de desmantelar violências
11 de dezembro de 2024
Em palestra promovida pelo Respeitar é Preciso! no Congresso Municipal de Educação, Vera Iaconelli abordou questões contemporâneas da educação brasileira
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Em 2024, a quinta edição do Grande Encontro das Comissões de Mediação de Conflitos fez parte da programação do Congresso Municipal de Educação da cidade de São Paulo e aconteceu no dia 29 de novembro (sexta-feira) com a participação aberta para profissionais da Rede Municipal de Educação de São Paulo. A programação do projeto Respeitar é Preciso! no Congresso foi composta por uma mesa redonda sobre os impactos da convivência escolar nos processos de aprendizagem e por uma palestra com a psicanalista Vera Iaconelli, focada em educação para a diversidade.
Vera Iaconelli é psicanalista, doutora em Psicologia pela Universidade de São Paulo (USP), membro do Instituto Sedes Sapientiae e da Escola do Fórum do Campo Lacaniano, colunista da Folha de São Paulo e fundadora do Instituto Gerar de Psicanálise. Seu campo de pesquisa envolve a constituição da parentalidade e temas que envolvem gestação, adoção, família, gênero e costumes a partir dos referenciais psicanalíticos.
Vera iniciou a palestra abordando a forma como a Escola, enquanto uma instituição inserida dentro de um contexto social amplo, uma vez que o sistema escolar deve atender a todas as crianças e adolescentes, é inevitavelmente atravessada pelas questões que afetam nossa sociedade. Portanto, as instituições escolares não são apenas lugares onde preconceitos e demonstrações de intolerância acontecem, mas é também uma instituição que pode adotar posicionamentos não inclusivos.
A psicanalista explica que a transformação das unidades escolares em instituições verdadeiramente democráticas e inclusivas representa, dentro do contexto histórico brasileiro, uma iniciativa pioneira e inovadora, uma vez que subverte a lógica sociocultural de nossa sociedade. Para dar prosseguimento a este processo de transformação dentro das escolas, é preciso que a escola entenda e confronte preconceitos e opressões presentes na sociedade brasileira nos campos coletivos e individuais.
O trabalho coletivo de estabelecer uma educação para a diversidade pode acontecer ao se abordar de forma pedagógica essas questões sociais. A construção das noções contemporâneas de masculinidade e feminilidade, conforme exemplificou Vera, podem ser abordadas em diferentes componentes curriculares , como história e sociologia, levando alunos e alunas a refletirem sobre os papéis de gênero e os preconceitos e sistemas de opressão que decorrem deles.
Vera Iaconelli chama atenção para as abordagens que são adotadas ao estudar grupos, povos e comunidades que não se encaixam nos padrões de normatividade impostos na sociedade. Segundo ela, é importante não transmitir aos estudantes perspectivas que exotizem estes grupos, bem como ensinar que não há uma forma de vida humana “normal” que sirva de métrica para as demais.
A psicanalista lembra que além de acolher a respeitar a diversidade das crianças e seus familiares, uma escola verdadeiramente inclusiva também promove a valorização de um repertório de saberes e conhecimentos diversos, e não apenas as habilidades tradicionalmente desenvolvidas e legitimadas na estrutura escolar tradicional. “O exotismo transforma a existência do diferente em algo menos humano. É preciso destruir esta ideia de que existe uma forma de vida humana ‘normal’ que modele e sirva de métrica para as outras”, Vera Iaconelli.
No campo individual, Vera enfatiza que todos os educadores e educadoras precisam se atentar aos próprios comportamentos e ideias preconceituosos que possuem, de modo a mudar as condutas que adotam ao educarem as crianças e adolescentes. Este processo no campo individual não é simples, exigindo compromisso e posturas críticas por parte dos educadores, “É preciso trabalhar estas questões no campo individual para que possamos refletir e entender quais são os nossos papéis dentro do processo de desmantelar as violências”, explica Vera.
O Grande Encontro das Comissões de Mediação de Conflitos é uma atividade integradora e formativa anual do projeto Respeitar é Preciso!, realizado em parceria entre o Instituto Vladimir Herzog e a Secretaria Municipal de Educação. A atividade tem como objetivo possibilitar alinhamento de conceitos pelas Comissões de Mediação de Conflitos, presentes em cada unidade educacional municipal da cidade de São Paulo e compostas por membros da própria equipe e comunidade escolar.
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