Vera Iaconelli no Grande Encontro das Comissões de Mediação de Conflitos - Foto: Caroline Moraes

Vera Iaconelli: é preciso refletir sobre nosso papel no processo de desmantelar violências

11 de dezembro de 2024

Em palestra promovida pelo Respeitar é Preciso! no Congresso Municipal de Educação, Vera Iaconelli abordou questões contemporâneas da educação brasileira

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Em 2024, a quinta edição do Grande Encontro das Comissões de Mediação de Conflitos fez parte da programação do Congresso Municipal de Educação da cidade de São Paulo e aconteceu no dia 29 de novembro (sexta-feira) com a participação aberta para profissionais da Rede Municipal de Educação de São Paulo.  A programação do projeto Respeitar é Preciso! no Congresso foi composta por uma mesa redonda sobre os impactos da convivência escolar nos processos de aprendizagem e por uma palestra com a psicanalista Vera Iaconelli, focada em educação para a diversidade.

Vera Iaconelli é psicanalista, doutora em Psicologia pela Universidade de São Paulo (USP), membro do Instituto Sedes Sapientiae e da Escola do Fórum do Campo Lacaniano, colunista da Folha de São Paulo e fundadora do Instituto Gerar de Psicanálise. Seu campo de pesquisa envolve a constituição da parentalidade e temas que envolvem gestação, adoção, família, gênero e costumes a partir dos referenciais psicanalíticos.

Grande Encontro das Comissões de Mediação de Conflitos
Foto: Caroline Moraes

Vera iniciou a palestra abordando a forma como a Escola, enquanto uma instituição inserida dentro de um contexto social amplo, uma vez que o sistema escolar deve atender a todas as crianças e adolescentes, é inevitavelmente atravessada pelas questões que afetam nossa sociedade. Portanto, as instituições escolares não são apenas lugares onde preconceitos e demonstrações de intolerância acontecem, mas é também uma instituição que pode adotar posicionamentos não inclusivos. 

A psicanalista explica que a transformação das unidades escolares em instituições verdadeiramente democráticas e inclusivas representa, dentro do contexto histórico brasileiro, uma iniciativa pioneira e inovadora, uma vez que subverte a lógica sociocultural de nossa sociedade. Para dar prosseguimento a este processo de transformação dentro das escolas, é preciso que a escola entenda e confronte preconceitos e opressões presentes na sociedade brasileira nos campos coletivos e individuais.

O trabalho coletivo de estabelecer uma educação para a diversidade pode acontecer ao se abordar de forma pedagógica essas questões sociais. A construção das noções contemporâneas de masculinidade e feminilidade, conforme exemplificou Vera, podem ser abordadas em diferentes componentes curriculares , como história e sociologia, levando alunos e alunas a refletirem sobre os papéis de gênero e os preconceitos e sistemas de opressão que decorrem deles.

Vera Iaconelli chama atenção para as abordagens que são adotadas ao estudar grupos, povos e comunidades que não se encaixam nos padrões de normatividade impostos na sociedade. Segundo ela, é importante não transmitir aos estudantes perspectivas que exotizem estes grupos, bem como ensinar que não há uma forma de vida humana “normal” que sirva de métrica para as demais.

Grande Encontro das Comissões de Mediação de Conflitos
Foto: Caroline Moraes

A psicanalista lembra que além de acolher a respeitar a diversidade das crianças e seus familiares, uma escola verdadeiramente inclusiva também promove a valorização de um repertório de saberes e conhecimentos diversos, e não apenas as habilidades tradicionalmente desenvolvidas e legitimadas na estrutura escolar tradicional. “O exotismo transforma a existência do diferente em algo menos humano. É preciso destruir esta ideia de que existe uma forma de vida humana ‘normal’ que modele e sirva de métrica para as outras”, Vera Iaconelli.

No campo individual, Vera enfatiza que todos os educadores e educadoras precisam se atentar aos próprios comportamentos e ideias preconceituosos que possuem, de modo a mudar as condutas que adotam ao educarem as crianças e adolescentes. Este processo no campo individual não é simples, exigindo compromisso e posturas críticas por parte dos educadores, “É preciso trabalhar estas questões no campo individual para que possamos refletir e entender quais são os nossos papéis dentro do processo de desmantelar as violências”, explica Vera.

O Grande Encontro das Comissões de Mediação de Conflitos é uma atividade integradora e formativa anual do projeto Respeitar é Preciso!, realizado em parceria entre o Instituto Vladimir Herzog e a Secretaria Municipal de Educação. A atividade tem como objetivo possibilitar alinhamento de conceitos pelas Comissões de Mediação de Conflitos, presentes em cada unidade educacional municipal da cidade de São Paulo e compostas por membros da própria equipe e comunidade escolar.

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Vídeo: VII Congresso Municipal de Educação

VII Congresso Municipal de Educação, 29 de novembro de 2024

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Troca de experiências entre educadores/as possibilita reflexões sobre mediação de conflitos para a convivência escolar democrática

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