José Manuel Resende em visita ao Instituto Vladimir Herzog (Foto: Vagner de Alencar)

José Manuel Resende: “A escola é um espaço de socialização política”

Em visita ao Brasil, o pesquisador conheceu o Instituto Vladimir Herzog e participou de um bate-papo com a equipe do Respeitar é Preciso!

“A questão do respeito não se desliga do questão da justiça e do justo. Gostaria que isso ficasse claro, porque não é possível circunscrever todas as disputas, toda a conflitualidade que aparece ligada à questão do respeito sem associar à questão da justiça”, afirma o sociólogo da educação José Manuel Resende, pesquisador do Centro de Estudos de Sociologia da Universidade Nova de Lisboa da Faculdade de Ciências Sociais (CESNOVA) e também fundador do coletivo Pragmáticos.

Em maio, Resende esteve no Brasil para participar de um evento promovido pelo Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo, que debateu Educação e Justiça na escola. O seminário do IEA-USP foi fruto da correspondência intelectual entre pesquisadores portugueses e brasileiros que compuseram o dossiê temático da revista Educação Temática Digital (ETD) deste ano. O dossiê “Brasil/Portugal: possibilidade de uma escola justa e das artes de fazer o comum” foi organizado pela professora Flávia Schilling e pelo professor José Manuel Resende. Os artigos podem ser acessados neste link.

No dia 30/05, o pesquisador visitou o Instituto Vladimir Herzog e conversou com a equipe do Respeitar é Preciso! sobre Educação em Direitos Humanos, respeito e escola justa.

“Nós chegamos à questão do respeito através daquilo que designa a política das amizades, usando o sentido de philia. A questão da amizade também aparece nas relações múltiplas entre diferentes atores da escola. Não é só philia entre colegas e alunos, mas entre alunos e professores, entre alunos e adultos.”

Para o pesquisador, a dinâmica dessas relações, ou sobretudo a falta delas, é considerado “um problema que é transversal”. “Toca as sociabilidades dentro da escola, dentro da sala de aula, fora da sala de aula, em outros territórios dentro da escola: cantina biblioteca etc.”

Resende explica que é preciso, desse modo, trazer para a arena da escola pública as questões sociais em torno da philia, da amizade, porque a escola continua a ser um lugar de aprendizagem, da aprendizagem interdisciplinar, e principalmente ela é o lugar onde as sociabilidades são fundamentais.

O pesquisador José Manuel Rezende durante conversa no Instituto Vladimir Herzog (Foto: Vagner Alencar)

O pesquisador José Manuel Rezende durante conversa no Instituto Vladimir Herzog (Foto: Vagner de Alencar)

“É por isso que eu designo que a escola é um espaço de socialização política. Um espaço de aprendizagem, e parte da aprendizagem interdisciplinar, do estudo da língua portuguesa, da química, da informática etc.”, completa. Segundo o professor o respeito precisa ser mútuo e não se limita à relação apenas professor-aluno. “O respeito mútuo deve haver tanto por parte dos alunos, quanto dos professores e alunos, funcionários e professores, funcionários e alunos”.

Ele reforça que não existe um “plano mágico” para o estabelecimento dessas relações, mas chama atenção para a importância do toque, do bom tratamento: “O uso do toque é essencial. Todos podem ser objetos do toque. Não só brancos, negros, indianos. Pode ter um lado paternalista, que criticam; mas pode ter um lado emancipador. É aquele frase do Obama ‘yes, we can’. Os alunos ficam gratos com tipo de reconhecimento, do olhar, da atenção do olhar”, explica.

Qual a importância dos Direitos Humanos para uma escola justa? O professor deixou seu recado para o portal do Respeitar:

 

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SAIBA MAIS:

Conheça alguns artigos publicados por José Manuel Resende sobre a temática:

[2005] Escola pública como «arena» política – contexto e ambivalências da socialização política escolar

[2013] Da philia à hierarquia na escola: composições da ordem escolar? (integra o e-book “Habitar a escola e suas margens – Geografias Plurais em Confronto”, publicação do II Colóquio Luso-Brasileiro em Belo Horizonte)

[2013] Das experiências de (des)qualificação das pessoas à precariedade dos laços entre os seres que habitam o mundo escolar

[2013] As artes de fazer o comum nos estabelecimentos de ensino – outras aberturas sociológicas sobre os mundos escolares

[2017] Hoje a folha de Excel é que manda – As outras faces das desigualdades na educação (pp 14 a 30)

 

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Esta postagem faz parte da série Escola é lugar de aprender democracia. Veja os outros posts aqui.

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