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Escola é para todo mundo – Entrevista Regina Lyrio

27 de fevereiro de 2018

A coordenadora pedagógica Regina Lyrio relata, em seu depoimento, a experiência com alunos imigrantes: “O processo de adequação que esse aluno imigrante está vivenciando é muito mais complexo para ele do que para nós”. Conheça outros aspectos que ela aponta sobre esse tema:

 

Respeitar é Preciso!: O Brasil tem sido o país de destino de imigrantes e refugiados originários em diversos países. Como essa diversidade de nacionalidades e culturas se manifesta nas escolas?

Regina Lyrio: Nem sempre essa diversidade é respeitada e sua riqueza, explorada. Muitas vezes, ao “absorver” as diferenças, a escola na verdade as ignora, e vemos alunos e comunidade passarem invisíveis. Com certeza, entre os alunos está muito mais visível, mais real, pois, na interação espontânea entre crianças e adolescentes, as relações são mais francas, curiosas e intensas. No entanto, é também o espaço para o bullying, para a opressão daquilo que é diferente e soa estranho. A escola, por parte dos educadores, deve estar aberta e preparada para acolher sua clientela migrante e imigrante, e a integração precisa desse olhar atento, como um convite para descobrir e compartilhar o que o novo aluno traz consigo em sua bagagem pessoal.

Respeitar é Preciso!: Recepcionar alunos imigrantes e integrá-los ao ambiente escolar tem sido um desafio para a equipe pedagógica? Em quais aspectos (idioma, cultura etc.)?

Regina Lyrio: Sim, no caso de línguas muito diferentes da nossa. Tivemos o caso de duas irmãs haitianas, que só falavam francês. Entramos em contato com a Diretoria Regional de Educação Campo Limpo, que, por meio da SME, organizou encontros para discutirmos formas de atendimento. Um professor de francês foi destacado para auxiliar nos primeiros momentos. Mas, infelizmente, não é uma ação já disponibilizada pela gestão. É uma luta, no caso da língua. Crianças aprendem facilmente. Estreitar relações com a família é muito importante. Apoiar professores e funcionários é fundamental para que o processo de integração aconteça e seja suave.

Respeitar é Preciso!: Tendo em vista que a educação é um direito universal de qualquer criança, quais são os procedimentos adotados pelos professores e demais profissionais para garantir esse direito às crianças que migram para o Brasil?

Regina Lyrio: Falar em procedimentos adotados por professores é falar sobre a estrutura que a administração pública tem o dever de oferecer para garantir as condições adequadas de trabalho e a qualidade esperada da educação. É uma responsabilidade não somente do professor. É da escola, é dos sistemas de educação. E não tem sido fácil, entre tantas dificuldades que a educação enfrenta. Obviamente, tanto a escola quanto o professor precisam ter o olhar de acolhimento para esses alunos e essas alunas, precisam buscar recursos para a barreira da língua, estreitar relações com a família, o que deve ser constante, buscar informações do país de origem, socializar essas informações entre todos os alunos, pois, com certeza, o processo de adequação que esse aluno imigrante está vivenciando é muito mais complexo para ele do que para nós.

 Respeitar é Preciso!: Em relação aos demais alunos, como tem sido a integração com aqueles que chegam de outros países? Existem trabalhos ou projetos relacionados a isso? Esse trabalho se torna mais fácil ou mais difícil de acordo com a idade e o segmento escolar das crianças?

Regina Lyrio: Pela nossa experiência, com alunas haitianas que chegaram para o 1.° e o 2.° anos, a faixa etária facilitou bastante. As crianças interagem facilmente nas brincadeiras, costumam ser solícitas, curiosas, amistosas. Percebemos mais aflição entre os adultos: os pais, as professoras, a equipe gestora. Buscamos informações sobre o país de origem, cantamos músicas nativas de lá e de cá. E é encantador ver a reação das crianças quando descobrem músicas e brincadeiras similares. É quando a questão da língua ganha sentido: as pessoas falam línguas diferentes pelo mundo, mas têm muita coisa em comum.

Respeitar é Preciso!: Como é o relacionamento das famílias com os demais membros da comunidade escolar? A diferença de idioma traz alguma dificuldade ou desafio maior?

Regina Lyrio: Com certeza, o processo de imigração que vivenciamos é, por si só, bastante difícil. São pessoas que não emigraram porque queriam, mas porque precisaram. Com a escola, o relacionamento é tranquilo quando acolhemos as famílias demonstrando atenção e empenho com a integração de seus filhos e suas filhas. Os imigrantes, em geral, têm um interlocutor que os ajudam na comunicação.

Respeitar é Preciso!: Quais os benefícios e aprendizados que um ambiente multicultural, com alunos de diferentes nacionalidades, pode gerar para as crianças que frequentam a escola?

Regina Lyrio: Os benefícios serão imensos se o assunto for tratado adequadamente pela escola. Desvendar as diferenças é fomentar o respeito à diversidade, é acrescentar à nossa realidade elementos instigantes, curiosidades, é expandir visões de mundo. Infelizmente, também constatamos que damos mais atenção ao aluno imigrante do que ao migrante brasileiro, quando não damos suficiente atenção à sua trajetória e deixamos de lado o cuidado com a integração desse aluno brasileiro oriundo de outro canto do país, de comunidades muito diferentes da nossa cidade urbana.

1 comentário

  1. Cecília Zilah Rodrigues em 27 de fevereiro de 2018 às 12:22

    Adorei a sua entrevista